Sense8 - Série
Dos criadores de Matrix, as irmãs Wachowski trazem um novo conceito em forma de série misturando a vida de oito pessoas que parecem compartilhar seus "corpos" entre sí. A minha mente só explodiu com a série.
Titulo: Sense8
País: Vários
Gênero: Drama, Fantasia, Ficção científica
Duração: 50 minutos
Episódios: 12
Criadores: Irmãos Wachowski ( Andy e Lana - criadores de Matrix), J. Michael Straczynski
Atores Principais: Aml Ameen, Doona Bae, Jamie Clayton, Tina Desai, Tuppence Middleton, Max Riemelt, Miguel Ángel Silvestre e
Trailer
A série começa com uma mulher em um lugar abandonado. Ela está grávida e, em meio a dor, dá luz: ela se conecta a oito estranhos ao redor do mundo e eles se conectam mentalmente e emocionalmente entre si também. Essa mulher, Angelica, consegue ver todos e todos eles a veem como se ela estivesse no mesmo lugar que eles estão. Os oito estranhos presenciam sua morte e a partir de então passam a conseguir visitar um ao outro e a compartilhar linguagem, habilidades e conhecimentos. Porém, nem tudo são flores: o homem que causou a morte de Angelica os está caçando e se ele pegar um, ele pega todos.
Essa série causou um blow na minha cabeça a começar pelo conceito.
São oito pessoas de oito culturas diferentes que não se conhecem e um dia se veem, após presenciar uma mulher morrendo que ninguém mais viu, conectados entre si.
Desde o começo da história não sabemos muito, pois nada é dado. Vamos descobrindo junto com os personagens e, com isso, ficamos com muitas dúvidas. O que é sense8? Por que eles são assim? Como a ligação foi feita? Eles nascem para isso ou são escolhidos? Quem os está caçando? Por que? Essas perguntas permeiam a série que vai seguindo um ritmo dia-a-dia, afinal, não é só porque coisas estranhas estão acontecendo que o mundo vai parar para você resolver tudo.
Eles não só visitam outro membro dos oito, como podem tomar controle do corpo dele também. Eles passam a se conhecer e a sentir o que o outro sente. É bem visível que conforme a série passa, isso se torna instintivo para eles: entender, cuidar e proteger uns aos outros.
E apesar de subitamente estarem ouvindo coisas e sendo transportados para outro lugar do globo, cada um reage de uma maneira diferente. Uma vê como algo divino, outro como um tumor, outro como um incomodo, mas no geral, eles não contam nada a ninguém e parecem absorver e se adaptar ao novo. São pessoas diferentes, que pensam diferente e enxergam as coisas de jeitos diferentes. Essa diferença de cada um vai se complementando para todos formarem "um só". Como diz a frase "I am we" (eu sou nós).
A vida deles também não para e as habilidades sense8 vão progredindo junto com suas vidas. Problemas com o noivo, com a família, com o companheiro, com o emprego... As vezes você até esquece que esta é uma série de ficção tamanha a naturalidade que a série consegue passar estas habilidades mescladas ao cotidiano.
Pode parecer superficial, mas o jeito com que foi filmado faz você perceber uma profundidade maior. Você não tem tudo mastigado e explicado, mas é uma história que te faz mergulhar de cabeça. Você consegue sentir e se colocar na pele dos personagens.
(sou maior que o tamanho do meu corpo)
Fiquei um bom tempo maravilhada com a habilidade de estar em dois lugares e confesso que até o momento não consegui compreender completamente. Quando dois personagens se visitam, os dois estão nos dois lugares ao mesmo tempo. Então você pode estar sentindo o calor de Mumbai, onde seu corpo está, e ao mesmo tempo sentir a chuva em Berlim, o lugar que você está visitando.
Os cenários também são de tirar o folego. Eu, como amante de culturas, simplesmente me apaixonei pelas diferenças que vi. As paisagens também me fizeram querer viajar todos os lugares mostrados.
Aqui vai uma breve descrição dos oito sense8:
Capheus "Van Damme" (Aml Ameen) , um motorista de van em Nairobi com um forte senso de justiça que está tentando desesperadamente ganhar dinheiro para comprar remédios para sua mãe, que sofre de AIDS. Achei ele um dos personagens mais otimistas, apesar de ser um dos que mais sofre. Fiquei encantada com a garra desse homem: as vezes a positividade é tudo o que você tem e isso já basta para te erguer. A vida está batendo na porta e você tem que lidar com ela. E se você não abrir a porta, pode deixar que ela arromba.
Sun Bak (Doona Bae), filha de um poderoso empresário de Seul e lutadora de kickboxing (underground). Ela parece bem indiferente e mas isso provavelmente é por causa do jeito que ela foi tratada pelo pai e irmão a vida toda. Achei interessante como a Sun lidou com esse tratamento que resultou nessa dualidade: por um lado ela é tratada como fraca, inferior e como uma nada simplesmente por ser mulher e do outro ela é uma lutadora de kickboxing implacável que não perde para ninguém.
Nomi Marks (Jamie Clayton), uma hacktivista, trans e lésbica que vive em San Francisco. Confesso que se um personagem não tivesse dito que ela era trans, eu não desconfiaria, por dois motivos: eu nunca tinha visto uma personagem trans e muito menos trans e lésbica em uma série e porque não não reflito muito sobre essas coisas: as pessoas são o que são. No fim acabei me apegando a ela, fiquei admirada por ter transformado suas derrotas em vitórias.
Kala Dandekar (Tina Desai), uma farmacêutica e devota de Ganesha que mora em Mumbai vai se casar com um homem que ela não ama. Ela aceitou se casar com o filho do dono da empresa na qual trabalha por achar que era o certo a fazer, mas não o ama. Puto azar, já que parece que todas as outras mulheres gostam do homem, menos ela. E para complicar tem o Wolfgang... Gostei muito da personagem, ela acaba carregando toda a ingenuidade que as outras personagens femininas perderam. Ela é delicada e meiga, muito fofa. Mas sabe fazer uma explosão quando precisa.
Riley Blue (Tuppence Middleton), uma DJ islandesa que quando mais nova fugiu para Londres. Desde o começo da série parece que tem uma coisa incomodando ela, algo que parece estar presente a cada momento da vida dela, atrapalhando-a. Algo no passado que a marcou profundamente. Confesso que a Riley me confundiu um pouco. Tinha a impressão que ela mudava de uma cena para outra, indo da inocência ao obscuro. Uma batalha entre o que ela é e o que ela se deixou tornar. Se por um lado a Nomi transformou suas derrotas em vitórias, a Riley jamais conseguiu o mesmo e acabou se tornando fantasma que vemos na série. As vezes ela volta ao normal e as vezes só afunda mais.
Wolfgang Bogdanow (Max Riemelt), um arrombador de Berlim que tem questões não resolvidas com seu falecido pai e participa no crime organizado. No começo não fui muito com a cara dele, mas com o passar da série ele me encantou. É interessante ver o contraste dele com a Kala. Ele tem um lado bem obscuro sim, mas eu passa a impressão que a vida o empurrou nessa direção. As pessoas gostam de pensar que os outros tem escolha, mas isso nem sempre é verdade.
Lito Rodriguez (Miguel Ángel Silvestre), um gay não assumido espanhol, ator de telenovelas e filmes, que vive na Cidade do México. Esse personagem é uma figura. Ele construiu uma imagem de ator em cima de um homem fodão, viril e sedutor, ou seja, o ápice do homem hétero. Só que ele é gay e tem pavor que descubram e isso acabe com sua carreira, por isso ele se torna um mentiroso covarde ao seu próprio ver. O ator nos rendeu umas cenas muito boas que combinaram perfeitamente com el sangre caliente español. Ele ama de verdade seu parceiro e muito é carinhoso e nada afeminado: muito pelo contrário.
Will Gorski (Brian J. Smith), um policial de Chicago e é assombrado por um caso não solucionado. Ele é o primeiro a descobrir mais sobre os sense8. Isso acontece não só porque ele acha o lugar onde Angela morreu, em Chicago, como também é encontrado por Jonas, um homem que estava com Angela e parece querer ajudá-los. Senti que ele foi um dos personagens que mais apareceu.
Como curiosidade
A série foi realmente gravada nos países retratados e com atores das respectivas nacionalidades. Isso aconteceu porque primeiro os criadores decidiram lugares que gostariam de explorar e só depois, em cima disso, começaram a criar os personagens. A filmagem da série foi um esforço conjunto e internacional resultante de diversas parcerias. Alguns eventos foram criados, mas outras foram gravadas em festivais e eventos que realmente aconteceram e foi gravado tudo em 4k.
O elenco muitas vezes teve que fazer cenas completas em uma cidade e depois de muito tempo fazer a mesma cena em outra locação, algumas vezes do outro lado do mundo, para a montagem das cenas que vemos na série. Fico imaginando quantas vezes eles filmaram algumas cenas nas quais precisava mostrar com e sem determinado personagem na cena.
Depois de terminar essa resenha cheguei a conclusão de que Sense8 fala muito sobre como as circunstancias da vida nos moldaram para chegar até onde chegamos, sobre os sofrimentos e superações e sobre como é importante conhecer outros pontos de vista e ver a vida de outro angulo, pois isso nos permite evoluir.
( Você acorda toda manhã )
( Para encarar os mesmos demônios )
( Que te deixaram tão cansada )
( Na noite anterior )
Tenho certeza que a série deve ter seus pontos negativos, mas eu me concentrei tanto nos positivos que até agora não vejo eles. Não consigo não ver Sense8 como um passo gigantesco na concepção de séries. Se deu certo ou vai dar, eu não sei, mas foi algo necessário. Nada vem sem tentativa e a criatividade e a inovação é o primeiro passo para o avanço.